LÍNGUAS, LIVROS E LEIS: O APAGAMENTO DA CULTURA INDÍGENA E RESISTÊNCIA

Main Article Content

Andrea Cristiane Kahmann
Marcia Rodrigues Bertoldi
Isabela Figueroa
Ana Carla Oliveira Bringuente

Abstract

O trabalho propõe uma revisão sobre a formação do Estado brasileiro desde a perspectiva do colonialismo e da colonialidade, orientada pela teoria da decolonialidade, partindo da história das línguas e dos livros em direção à lei e ao apagamento das culturas indígenas. As peculiaridades da colonização brasileira, suas diferenças frente aos países vizinhos latino-americanos e os ecos deste processo no Brasil contemporâneo perpassam os quatro pontos em que se estrutura este trabalho, a saber: (1) a diversidade linguística do Brasil originário e nas mudanças decorrentes do processo de conquista europeu; (2) o processo de independência (política, econômica, cultural) nunca concluído e as sobreposições de dominações que complexificaram as hierarquias, criando dominadores de dominadores e dominados que subjugam a outros dominados; (3) reflexões sobre como os dominadores coloniais mantiveram-se (a si mesmos e à nação) à margem dos ideais de modernidade e racionalidade na perspectiva iluminista; e (4) os ecos do colonialismo e da colonialidade no Brasil contemporâneo sobre as culturas indígenas, especialmente sobre suas línguas, e a resistência dos povos originários. Para tanto, ainda que sejam feitas inferências a partir de dados históricos e estatísticos em abordagem qualitativa, emprega-se o método dedutivo sempre e quando o lugar de fala da autoria referenciada seja equivalente à realidade brasileira. Conclui-se que o reconhecimento do multilinguismo e a participação dos povos originários na tomada de decisões estatais pode permitir que os direitos desses povos passem pela efetivação.

Article Details

Section
Articles
Author Biographies

Andrea Cristiane Kahmann, Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Pelotas-RS, Brasil

Doutora em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre-RS, Brasil. Mestre em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre-RS, Brasil.  Especialista em Gestão Estratégica Municipal pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul-RS, Brasil. Graduada em licenciatura plena em letras português / espanhol pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul-RS, Brasil. Graduada em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul-RS, Brasil. Coordenadora do Curso de Bacherelado em Letras - Tradução Espanhol/Português da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Pelotas-RS, Brasil.

Marcia Rodrigues Bertoldi, Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Pelotas-RS, Brasil

Doutora em Globalização e Direito pela Universidad de Girona (Revalidado pela UFSC em 11 de novembro de 2004) (UDG), Girona, Espanha. Doutora em Estudos Internacionais pela Universidad Pompeu Fabra (UPF), Barcelona, Espanha.  Graduada em Direito pela Universidade Católica de Pelotas (UCPEL), Pelotas-RS, Brasil. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Direito e Professora do Curso de Direito da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Pelotas-RS, Brasil.

Isabela Figueroa, Universidad del Magdalena, Facultad de Ciencias Humanas. Santa Marta - Colómbia

Professora de Direitos Humanos do Programa de Direito da Universidad del Magdalena (Colómbia). Pós Doutora na Universidade Católica de Pelotas, pesquisa com proteção social e povos indígenas. Doutora em Estudos Culturais Latinoamericanos pela Universidad Andina Simón Bolívar (Equador, 2015). Mestre em Direito Indígena pela University of Calgary (Canadá, 2009). Mestre em Direito e Política dos Povos Indígenas pela University of Arizona (EUA, 2002). Mestre em Direito Económico pela Universidad Andina Simón Bolívar (Equador, 1998). Pesquisa e docência em temas relacionados com terras, territórios, povos indígenas, comunidades pesqueiras artesanais, indústria extrativa e conflitos socioambientais na América Latina.

Ana Carla Oliveira Bringuente, Faculdade Dom Alberto (FDA), Santa Cruz do Sul-RS

Docente no Curso de Direito na Faculdade Dom Alberto (FDA), Santa Cruz do Sul/RS. Mestre em Direitos Sociais pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), na Linha de Pesquisa Estado e Constituição. Especialista em Direito Público, com ênfase em Direito Constitucional pela Universidade Potiguar (UnP), Brasil. Graduada em Direito pelo Centro Superior de Ciências Sociais de Vila Velha/ES (UVV), Vila Velha-ES, Brasil.

References

ABDALA, V. Brasil tem cinco línguas indígenas com mais de 10 mil fa-lantes. EBC, 11 dez. 2014 e Disponível em: http://www.ebc.com.br/cul-tura/2014/12/brasil-tem-cinco-linguas-indigenas-com-mais-de-10-mil-fa-lantes. Acesso em: 16 jul. 2019.

ACOSTA, A. O bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mun-dos. São Paulo: Autonomia Literária, 2016.

ALMEIDA, J. D. L. História do Brasil. Brasília, DF: Funag, 2013.

AVELAR, L.; CINTRA, A. O. Sistema político brasileiro: uma introdu-ção. 2. ed.rev. ampl. Rio de Janeiro: Konrad-Adenauer-Stifung; São Paulo: Unesp, 2007. p. 19-34.

BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 43. ed. São Paulo: Cul-trix, 2006.

CANDIDO, A. Literatura e subdesenvolvimento. In: CANDIDO, A. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: ática, 1989. p. 140-162.

CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

CARVALHO, J. M. Fundamentos da política e da sociedade brasileiras. In: COLAÇO, T. L.; DAMáSIO, E. S. P. Novas perspectivas para a antro-pologia jurídica na América Latina: o direito e o pensamento decolonial. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2012.

GARCÉS, F. Las políticas del conocimiento y la colonialidad lingüística y epistémica. In: CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. (orgs.). El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre, 2007.

GROSFOGUEL, R. The implications of subaltern epistemologies for glo-bal capitalism: transmodernity, border thinking and global coloniality. In: APPELBAUM, R. P.; ROBINSON, W. I. (eds.). Critical globalization. New York/London: Routledge, 2005.

HALLEWELL, L. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2012.

HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa ver-são 3.0. rev., ampl. atual. São Paulo: Objetiva, 2009. 1 CD-ROM.

IBGE “ INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. PNAD Contínua 2018: 10% da população concentram 43,1% da massa de rendimentos do país. Agência de Notícias, 16 out. 2019. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-a-gencia-de-noticias/releases/25700-pnad-continua-2018-10-da-populacao--concentram-43-1-da-massa-de-rendimentos-do-pais. Acesso em: 19 dez. 2019.

IBGE “ INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Anuário Estatístico do Brasil. v. 74. Rio de Janeiro: IBGE, 2014. Disponí-vel em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/20/aeb_2014. pdf. Acesso em: 2 de nov. 2019.

IBGE “ INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Os indígenas no Censo demográfico 2010: primeiras considerações com base no quesito cor ou raça. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em: https://ww2.ibge.gov.br/indigenas/indigena_censo2010.pdf. Acesso em: 8 jul. 2019.

IBGE “ INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Tendências demográficas no período 1950 a 2000: uma análise dos re-sultados da amostra do Censo demográfico 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/tendencias_demograficas/comentarios.pdf. Acesso em: 6 dez. 2019.

KAHMANN, A. P. Perspectivismo, corazonar e estar: educação e sabe-dorias xamânicas no Santo Daime. Dissertação (Mestrado em Educação) “ Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, 2017.

KHATIBI, A. Maghreb pluriel. Paris: Denoel, 1983.

MERCOSUL. Comissão Permanente de Gênero e Direito das Mulheres da Reunião de Altas Autoridades em Direitos Humanos e Chancelaria do MERCOSUL (RAADH). Manual pedagógico sobre el uso del lenguaje inclusivo y no sexista. Buenos Aires, IPPDH, 2018. 28p. Disponível em: http://www.ippdh.mercosur.int/pt-br/publicaciones/manual-pedagogico--sobre-o-uso-da-linguagem-inclusiva-nao-sexista/. Acesso em: 15 fev. 2019.

MIGNOLO, W. Os esplendores e as misérias da ˜ciência™: colonialidade, geopolítica do conhecimento e pluri-versalidade epistémica. In: SANTOS, B. S. (ed.). Conhecimento prudente para uma vida decente: um discurso sobre as ˜ciências™ revistado. Lisboa: Afrontamento, 2003.

QUIJANO, A. Colonialidad del poder, eurocentrismo y America Latina. In: LANGER, E. (Org.) La colonialidad del saber: eurocentrismo y cien-cias sociales. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 201-246.

______. Bienvivir: entre el desarrollo y la des/colonialidad del poder. In: QUIJANO, A. (ed.). Des/colonialidad y bien vivir: un nuevo debate en América Latina. Lima: Editorial Universitaria, 2014. Disponível em: http://www.mapuche.info/wps_pdf/quijano%202014.pdf. Acesso em: 24 jun. 2019.

______. Colonialidad del poder y clasificación social. In: CASTRO-GÓ-MEZ, S.; GROSFOGUEL, R. (orgs.). El giro decolonial: refl exiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre, 2007.

SACHS, I. Desenvolvimento includente, sustentável e sustentado. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.

SANTOS, B. S. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: SANTOS, B. S; MENESES, M. P. (Orgs.). Epistemologias do sul. São Paulo: Cortez, 2010. p. 31-83.

SILVA, N. V.; BARBOSA, L. O. População e estatísticas vitais. In: IBGE “ INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Esta-tísticas do século XX. Rio de Janeiro: IBGE, 2006. Disponível em: http://seculoxx.ibge.gov.br/images/seculoxx/seculoxx.pdf. Acesso em: 2 nov. 2019.

SOUSA FILHO, C. F. M.; BERGOLD, R. C. (Orgs). Os direitos dos povos indígenas no Brasil: desafios no século XXI. Curitiba: Letra da Lei, 2013.

SPIVAK, G. C. Tradução como cultura. Ilha do Desterro, Florianópolis, n. 48, p. 41-64, jan./jun. 2005.

TORRES, M. H. C. Best-sellers em tradução: o substrato cultu-ral internacional. Alea, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, dez. 2009. Disponí-vel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S-1517-106X2009000200006. Acesso em: 30 out. 2019.

WALSH, C. (Re)Pensamiento crítico e (de) colonialidad. In: WALSH, C. Pensamiento crítico y matriz (de)colonial: reflexiones latinoamericanas. Quito: Universidad Andina Simón Bolívar; Abya-Yala, 2005.

______. Interculturalidad y colonialidad del poder: un pensamiento y po-sicionamiento œotro desde la diferencia colonial. In: CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. (orgs.). El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre, 2007.

WOLKMER, A. C. Pluralismo jurídico: fundamentos de uma nova cultura do direito. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. Disponível em: http://www. forumjustica.com.br/wp-content/uploads/2013/02/Antonio-CarlosWolk-mer-Pluralismo-juridico.pdf. Acesso em: 30 out. 2019.

WYLER, L. Língua, poetas e bacharéis: uma crônica da tradução no Bra-sil. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.