A SETORIZAÇÃO NA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS COMO UM ÓBICE ESTRUTURAL AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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Gabriela Garcia Batista Lima Moraes
André Augusto Giuriatto Ferraço

Resumo

A setorização administrativa para a gestão dos recursos hídricos brasileiros apresenta-se como um óbice ao desenvolvimento sustentável, na medida em que potencializa a ocorrência de conflitos de interesses pelos usos múltiplos da água e em que perpetua a exposição do recurso aos cenários de vulnerabilidade. Diante da intensificação dos casos de crise hídrica, os conflitos nessa esfera se tornaram cada vez mais recorrentes, de modo que se faz necessária a integração entre os atores e setores que dependem de disponibilidade hídrica para realizarem suas atividades. Nesse contexto, o objetivo deste artigo é demonstrar que a insuficiência de integração entre os setores na gestão da água não contribui para o desenvolvimento sustentável. A partir da hipótese de que a gestão nacional dos recursos hídricos brasileiros é insuficientemente integrada, investiga-se em que medida a Setorização político-administrativa da gestão dos recursos hídricos no Brasil representa um óbice à implementação e alcance de objetivos elencados pela Política Nacional de Recursos Hídricos. Com base no método hipotético-dedutivo, apoiado pela análise amostral dos conflitos hídricos nacionais e pela revisão normativa, doutrinária e jurisprudencial, a pesquisa argumenta que a Setorização da gestão hídrica se constitui como um óbice estrutural ao desenvolvimento sustentável. A superação desse óbice requer a observância do Princípio da Integração, cuja aplicação se torna relevante no campo hídrico a partir da percepção ecossistêmica das interconexões entre os setores, atores e recursos naturais integrantes desse processo.

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Artigos
Biografia do Autor

Gabriela Garcia Batista Lima Moraes, Universidade de Brasília (UnB)

Doutora em Direito pela Université de Aix-Marseille e pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), com bolsa CAPES. Mestre em Direito pelo UniCEUB, em parceria  com  o  Instituto  de  Desenvolvimento  Sustentável  e  Relações  Internacionais  da  França  (IDDRI). Coordenadora e professora adjunta de Direito Ambiental da Faculdade de Direito da UnB. Codiretora do grupo de Estudos Direito dos recursos naturais e sustentabilidade (GERN/UnB).

André Augusto Giuriatto Ferraço, Universidade de Brasília (UnB)

Doutorando e mestre em Direito pela UnB, na Linha Internacionalização, Trabalho e Sustentabilidade. Professor voluntário na Faculdade de Direito da UnB. Membro do Grupo de Estudos Direito dos Recursos Naturais e Sustentabilidade (GERN/UnB).

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